VAN ILLICH
Ivan Illich nasceu em Viena no ano de 1926 e faleceu em Bremen, na
Alemanha em Dezembro de 2002. Filho de pai jugoslavo e mãe com ascendência
judia, teve de abandonar a Áustria quando tinha cinco anos. A família
mudou-se para Roma, onde Illich completou os seus estudos: física (Florença),
filosofia e teologia (Roma) e doutoramento em História (Salzburgo). Durante a
infância e juventude conviveu com o círculo de nobres russos que se
refugiaram na capital italiana depois de terem saído do seu país aquando da
revolução comunista de 1917. Foi também em Roma que Illich entrou para o
seminário (1951), onde teve como colegas muitos dos futuros diplomatas do
Vaticano e onde se ordenou sacerdote. O Cardeal Spellman, arcebispo de Nova
Iorque, convidou-o para seu auxiliar. Por ser fluente em dez línguas, Illich
tornou-se intérprete do Cardeal e teve como função preparar sacerdotes e
religiosas para a comunidade hispano-americana. Nos anos 60 mudou-se para o
México onde criou o Centro Intercultural de Formação (CIF), com o objectivo
de sensibilizar missionários para trabalhar na América Latina. Na década de
70 foi co-fundador do Centro de Informação e Documentação (CIDOC), espécie de
universidade aberta, especialmente voltada para os problemas da educação e
independência cultural do Terceiro Mundo, sobretudo da América Latina. |
Em
Educação sem Escola?, Ivan Illich faz uma análise crítica
das instituições educativas actuais e das suas características e propõe a
criação de um sistema alternativo que rebata a figura da escola na de uma
aprendizagem não enquadrada institucionalmente.
Segundo Illich, o actual sistema educativo converteu-se num sistema
burocrático, hierarquizado e manipulador, tendo como função primordial a
reprodução e o controlo das relações económicas. Por toda a parte, o aluno é
levado a acreditar que só um aumento de produção é capaz de conduzir a uma vida
melhor. Deste modo se instala o hábito do consumo dos bens e dos serviços, que
nega a expressão individual, que aliena, que leva a reconhecer as classes e as
hierarquias impostas pelas instituições(Illich, 1974, pp.9). Os alunos estão
sujeitos a currículos extensos e repetitivos, dados de forma demasiado rápida e
superficial. Os professores, já habituados a esta rotina, não dão a possibilidade
de aprofundar um ou outro tema que mais interesse os alunos, nem são capazes de
atender às necessidades específicas de cada aluno. A escola passa assim a
ser um local de desigualdades e de conflitos, uma vez que alguns se adaptarão
melhor do que outros.
Segundo Illich, o facto de a escolaridade ser obrigatória
só agrava a situação. Aqueles que não se conseguem adaptar aos temas
curriculares obrigatórios e aos métodos de ensino vigentes, arrastam-se durante
anos na escola, nada aprendem de válido, perdem a sua auto-estima. Quando
finalmente deixam a escola, os alunos não estão preparados para ingressar no
mundo do trabalho. Assim, deparamo-nos com jovens desanimados e desapontados,
sem grandes perspectivas de futuro. Caso os alunos decidam abandonar a escola
antes de terminarem a escolaridade obrigatória, deparam-se com problemas ainda
mais graves, porque se, com a escolaridade mínima ainda têm a possibilidade de
arranjar emprego mesmo sem formação específica, sem certificação escolar, ainda
que mínima, o emprego torna-se quase impossível, ou então, sujeitam-se a
empregos menos bons e mal remunerados.
Illich defende que, apesar de muitas pessoas terem já
consciência da ineficácia e da injustiça patentes no sistema educativo
moderno, não são ainda capazes de imaginar alternativas nem de conceber uma
sociedade
descolarizada. Daí que se torne necessário"criar entre o
homem e aquilo que o rodeia novas relações que sejam fontes de educação,
modificando simultaneamente as nossas reacções, a ideia que fazemos do
desenvolvimento, os utensílios necessários para a educação e o estilo da vida
quotidiana" (Illich, 1974, pp.6).
Em alternativa ao actual sistema
educativo, Illich propõe a criação de novas instituições educativas, que
permitam "dar àquele que quer aprender novos meios de entrar em contacto
com o mundo à sua volta" (Illich, 1974, pp.7).
A criação de novas instituições educativas propostas
por Ivan Illich, teria como objectivos principais:
- Permitir
a todos aqueles que pretendem aprender o acesso aos recursos existentes,
em qualquer idade;
- Facilitar
o encontro entre aqueles que desejam comunicar os seus conhecimentos e
toda e qualquer pessoa que deseje adquiri-los;
- Permitir
aos portadores de ideias novas que se façam ouvir.
Segundo Illich, as novas instituições educativas
deveriam permitir a qualquer aluno o livre acesso a toda a informação e a
todo o conhecimento que pretendesse adquirir. Em oposição aos actuais
programas escolares obrigatórios supervisionados pelas instituições, o aluno
não deveria ter necessidade de apresentar quaisquer credenciais ou currículo
anterior para lhe ser facultado esse acesso. De igual modo, estas novas
instituições permitiriam a todas as pessoas a possibilidade de comunicarem os
seus conhecimentos, tornando-os acessíveis e disponíveis a todos os
interessados, com vista a aumentar e a multiplicar as oportunidades quer de
aprender, quer de ensinar.
Segundo Illich, trata-se de substituir a pergunta: «O
que é necessário que se aprenda?», por «Com que espécie de coisas e de
pessoas deve estar relacionado aquele que deseja aprender?» (Illic |